1/03/2009

Maurício de Macedo: compulsão por poesia


Roberto Amorim

17/12/2007 Tudo na Hora


Autor de 17 livros publicados, poeta diz que a atual crítica da literatura alagoana está contaminada pela “cumplicidade da mentira”


Nos últimos anos, o poeta Maurício de Macedo decidiu romper com a tradição dos barulhentos coquetéis de lançamento. Seu ritual agora é silencioso e simples: depois do livro pronto, envia exemplares para amigos e escritores como Ferreira Gullar e Affonso Romano de Sant´Ana. Gente que ele tem certeza que irá ler os versos saídos da sua mente compulsiva pelo ato de fabricar poesia.
É como se não conseguisse respirar direito sem o contato diário e direto com as palavras e suas infinitas possibilidades de criação. Uma espécie de dispnéia crônica. E “Dispnéia” é justamente o título do seu 18º livro de poesia, que já está pronto. A estréia oficial foi em 1996, com “Cinzel da Língua”. É uma média de quase duas publicações por ano.
“A poesia esteve presente ou foi responsável por todos os momentos dialéticos da minha vida. É uma questão de sobrevivência, eu escrevo para continuar vivendo”, confessa Maurício, enquanto dá uma pausa na leitura da biografia do poeta norte-americano Walt Whitman (1819 – 1892).
Até pouco tempo atrás, essa intensa produção vinha somente da história (Escorial do Açúcar) e da cultura popular de Alagoas (As Aventuras da Negra Fulô). Mas, com “Fragmento”, publicado esse ano, a poesia de Maurício de Macedo fica mais intimista, autobiográfica. Em “Dispnéia” esse movimento se aprofunda e externa a infância, os dramas familiares e existenciais do poeta.
“O autor não consegue fugir dele mesmo já que o tempo da poesia não é histórico. A memória é autônoma e dita os temas, quase sempre dolorosos. Mas a dor é mola da arte, e o artista não pode escapar dessa sina”.

Dinheiro e crítica

Único financiador dos próprios livros, o médico de profissão diz que é movido pela certeza do leitor anônimo. Não lhe traz incômodo não ter ganho nenhum dinheiro com sua poesia. “O essencial é tirar as palavras da gaveta e deixá-las ao alcance de quem quiser”.
Também não está interessado no que dizem dos seus livros no blindado circuito acadêmico. Ele garante que não quer competir, ser aceito ou ter qualquer outro reconhecimento se não dos leitores.
Para Maurício, a crítica isenta e sóbria há muito deixou de ser praticada pelos mestres e doutores da Universidade Federal de Alagoas. “Existe, na verdade, um provincianismo maldoso com poder inquisitório no qual impera a cumplicidade da mentira. Eles elegem algumas celebridades e começam a delirar ao redor delas. Não quero me tornar refém desse jogo”.
E sentencia o próprio destino: “Prefiro ficar quieto no meu canto, lendo, escrevendo, escrevendo e lendo....”

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