1/13/2009

O GAVIÃO

Sou a que não é.
O passarinho no viveiro
e a sombra do gavião.
(Basta que minhas irmãs se aproximem,
basta que me lembre delas
e o gavião sobrevoa
o viveiro do passarinho.
Basta que me lembre delas
carinhosamente.)

Era preciso que estivessem muito longe,
muito longe,
aquém do pensamento,
para que eu pudesse escutar
a canção do passarinho...
Mas como me compraz,
como me compraz
o assovio do gavião.

Poderia sentar-me com calma
e escutar o canto do passarinho.
Poderia. E, às vezes, escuto
quando me esqueço.
Mas o assovio do gavião,
o assovio do gavião...
Ai, as duas harpias
bicando carinhosamente
o meu coração.

Sou a que não é.
E todo o mal emana
do furta-cor das minhas palavras
cravando-se feito anzóis
(O furta-cor das minhas palavras
rasgando os peitos infantis
como se fossem anzóis.)

Sou a que não é.
Minhas mãos fazem carinhos
de sombras
e o leite seca no meu seio,
virando água rala.
Sou a que não pode ser.
Sou a sentença do não ser.

Nenhum comentário:

Postar um comentário