1/02/2009

Altar-mor

Madalena, cintura de vespa,
ajoelhou-se com seu vestido dourado.
Cabelos compridos, descendo nos ombros,
não ousou olhar para o alto.
Arrependida dos seus pecados,
ajoelhou-se, cintura de vespa,
os dedos deixando à mostra
do pezinho tão delgado.
(Em terra de tanto pecado,
só Madalena poderia
com seu gesto contrito e delicado
dar esperança a quem vive
na luxúria atolado.)
O patriarca de um lado,
do outro o casamenteiro.
De pés descalços, Francisco,
braços cruzados no peito
as chagas exibe das mãos.
É das chagas prosaicas da sífilis
que o povo desta alagoa
vem lhe pedir remissão.

De todos na comunidade,
Antônio é o preferido:
sobretudo das moças da terra
que não querem ficar sozinhas
sem ter homem ou marido.
Mais na frente, de cada lado,
a Virgem Maria, prestem atenção.
Do Desterro é uma delas,
a outra é da Conceição.
Engravidar e sofrer do mundo
da mulher é sina e paixão.
É Maria quem roga por ela
no silêncio de sua aflição.

Braços levantados, cabeça erguida,
distante dos rogos humanos, jaz o Cristo,
solitário na sua paixão.

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