Todo esse egoísmo, Senhor,
toda essa indiferença
atravessando as gerações.
Todo esse veneno
infiltrando-se lentamente nos corações.
Todo o sentimento vil
plasmando, plasmando,
configurando o rosto do monstro.
E, de repente, Senhor,
esse espanto, essa agonia
de quem enfrenta um espelho,
já tão tarde, tão tarde,
e essa bondade desesperada
de quem busca lavar as mãos
do pecado original.
Por que só agora, Senhor,
já tão tarde, tão tarde,
essa luz súbita feito o clarão
na estrada de Damasco?
Por que só agora, Senhor,
quando não é a estrada de Damasco,
quando o homem não é santo,
quando é pequeno o homem
para levantar-se do tempo da ignomínia?
Por que só agora
quando nenhum gemia se dispõe
e a palavra do homem é fraca
e o futuro se encolhe, Senhor,
cativo do tempo da ignomínia?
As vítimas dos crimes clamam,
Senhor,
como as ondas na praia
e as bondades tardias são como folhas mortas.
1/13/2009
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