1/02/2009

CANÇÕES DA MARÉ

Alguma poesia impressionista ou seis pequenos poemas em busca de luz

POEMA Nº 1

Entre a areia e o mar,
como o dorso de uma mão enorme,
calosa, gretada pelo sol
- a mão de um cigano velho
com anéis de pedra verde -,
o arrecife silencia
na reverberação da luz.

Só perto do quebra-mar
é que o coral canta
quando o mar sobe e desce,
sobe e desce,
pelas veias e pela garganta aberta
do arrecife.


POEMA Nº 2

O mar arranca os olhos
- verdes ­
e os oferece ao sol
numa taça de corais,
enquanto se retira
cego
para sua peregrinação abissal.


POEMA Nº 3

Os cavalos saem correndo do mar.
Em galope desenfreado,
os cavalos saem do mar.
Verdes, com suas crinas brancas,
os cavalos saem correndo do mar.


POEMA Nº 4

Agora não é mais o silêncio
do cemitério violado
- ossário de coral exposto ao sol.
Agora já não existe o espanto
- hiato árido ­
entre terra e água.
Agora é sim e não,
sim e não...
- murmúrio do galanteio do mar
depositando o colar de espumas
no regaço da areia.


POEMA Nº 5

O barco está bêbado
- embora não seja o de Rimbaud ­
e se agarra tombando
à corda tensa da âncora.

Se não segura a corda,
se a corda rompe,
o barco cai nas ondas.
E quem há de segurar o barco,
quem há de levantá-lo,
quem há de colocá-lo novamente
sobre as ondas?

E se o vento leva o barco
como uma folha,
descansará de bruços na areia?
Quem há de ter torças para erguê-lo,
para trazer o barco de volta
às ondas?

O barco está bêbado
- embora não seja o de Rimbaud ­
e se agarra tombando
à corda tensa da âncora.


POEMA Nº 6

Entre a praia e o horizonte,
- imenso lençol cintilante ­
as borboletas verdes tremulam
pousadas no sonido do acalanto.

Entre a praia e o horizonte,
infinitas,
as borboletas verdes são cativas do sol,
senhor de suas asas
a se moverem sincronizadas.

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