9/05/2019

Sensitiva

Maurício de Macedo

A cordelista
- versinhos tão ingênuos -
caiu no chão  batendo-se
e revirando os olhinhos
quando o poeta adentrou
- sozinho e discreto -
o saguão da bienal literária.
(Porque ele falava
o que ela não sabia falar
e porque ele dizia
o que ela não conseguia entender,
um silêncio mordia a sua língua
e enterrava as garras aduncas
nas fibras dos seus músculos.)

O corpo protestava
- a palavra não conseguia.
(Ainda que adulada
pela Secretaria de Cultura,
havia uma distinção
que ela jamais alcançaria.)
Quando se recuperou
disse que era sensitiva
e que seu corpo reagira
(Gira, Gira)
à passagem de um espírito
do mal.

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