7/27/2019

Poesia

Maurício de Macedo

A palavra como a corda
que vai desenrolando-se,
desenrolando-se...
até chegar ao fundo
do  poço.
E ele segura na corda
e vai segurando e subindo,


segurando e subindo...

O ovo da serpente

Maurício de Macedo

O ciclista que dirigia no calçadão
quase agrediu o senhor
de meia-idade
porque este lhe apontou
a ciclovia ao lado.

Fazendo gestos de ameaça,
o motoqueiro perseguiu o carro,
depois que o motorista o advertiu
pela falta de respeito


ao sinal fechado.

7/14/2019

Rasputin

Maurício de Macedo

O sarcasmo histriônico,
a personalidade histérica...
Impunha-se na igrejinha provinciana
como um Rasputin das letras.

E os áulicos se curvavam
diante das pantomimas do guru
que poderia açodá-los
como se açodam os cães,
se quisesse.

Risco

Maurício de Macedo

Quem não está comigo
está contra mim,
levanta-se a bandeira.
Se havia risco na palavra,
não há menor no silêncio.
E os cães de caça da paranoia
rosnam em torno do que se cala.

Poesia, ai de ti, poesia,
sempre tão recôndita,
a proteger o ouvido
dos espinhos das algaravias...