1/02/2009

WALT WHITMAN

Todos os homens banhavam-se nas ondas,
os corpos atléticos nus.
Todos os homens de mãos calejadas
tinham um colibri no coração.
Todas as borboletas revoavam
em torno da estátua da liberdade.
E a América cantava a canção de si mesma
na voz máscula dos trabalhadores
com rosas na garganta.

Todos os marceneiros, todos os barqueiros,
todos os ferroviários, todos os pedreiros
cantavam o coro da ópera de Adão.

Todas as meias-palavras,
todos os subentendidos do amor
raiavam na aurora da América.
O bardo nascido do povo
punha guirlandas de flores de palavras
nos peitos rudes.
O júbilo da carne fazia-se casto
e doce
na canção do novo mundo
e os homens davam-se as mãos
numa ciranda de fraternidade.
A voz da terra, a voz das florestas,
a voz dos campos, a voz do mar,
a voz das cidades
estavam em todos e em cada um
no proscênio da língua de um continente novo.

E, de repente, na poesia, as cartas dos soldados rasos
feridos,
moribundos, mortos.
Na poesia as cartas dos soldados rasos
com seus gritos silenciosos à mãe terra,
com seus mistérios não falados
expostos nas vísceras, nos ossos, no sangue.
Nos versos do poeta
os soldados estripados não aguardariam
inutilmente
os soldos,
nem procurariam exaustos suas identidades
erradas.
A poesia já não toca as feridas da alma
apenas.
A poesia toca o sangue, as vísceras, a febre,
o pus, a diarréia.
Toca o grito e o silêncio dos feridos
e dos mutilados
expostos nos corredores
com seus olhares mudos.

Agora a poesia se debruça sobre o jovem soldado
moribundo
e beija-lhe a face e a palavra.
A poesia segura a fragilidade
e o adeus do jovem soldado
no pescoço do enfermeiro
nos longos corredores da morte.
O amor selvagem e casto
pousa no beijo na boca
feito bálsamo.

Já sabias, poeta,
que a morte feito uma mãe
acolheria os homens ob a noite estrelada
com um buquê de flores brancas e púrpuras,
cantando um lullaby.

Nenhum comentário:

Postar um comentário