1/02/2009

O ROSTO DO POEMA

Não terá a tua emoção
o poema que escrevi.
Não sofrerá a tua dor
nem a tua tristeza.
Escrevo o poema
a partir do que em mim dói
da tua ferida
que ele cauteriza como cirurgião.

Não cantará a tua alegria
o poema que escrevi.
Não terá o teu sorriso
nem a sonoridade da tua gargalhada.
Escrevo o poema
a partir do que em mim se alegra
do que em ti é criança
a quem ele dá as mãos para brincar de roda.

Não terá a cor de teus olhos
o poema que escrevi.
Não terá a maciez de tua pele
nem o arco das tuas sobrancelhas.
Escrevo o poema
a partir do meu rosto
no teu,
de onde ele escorre
e vira espelho.

Não será para ti
o poema que escrevi.
Não será sobre ti
nem a partir de ti.
Escrevo o poema
a partir da minha presença na tua,
de onde ele escapa
feito pássaro.

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